quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O Segredo e a Lei da Atracção

Eu apercebi-me do Segredo, enquanto estava numa estação de serviço, e li o seguinte na revista visão: Desejo, penso, tenho. Acrescentando: Chaves para compreender um fenómeno planetário.
Num tempo, em que as opiniões vacilam entre um pessimismo covarde e um optimismo hipócrita, sente-se que algo não vai bem.


Revista Visão de 26 de Julho de 2007

O pessimismo é muitas vezes covarde, pois ainda se agarra a valores que já passaram à história, como sejam o do Self Made Man e outros que num mundo em rotura ambiental, económica e outras não comporta grandes heroísmos, e esse tipo de esperança gloriosa encontra-se seriamente comprometida. É verdade, a exclusividade dificilmente será democratizada, e grandes frustrações acompanham falhados Special Ones.
O optimismo é muitas vezes hipócrita, pois sustenta-se em visões idílicas, onde para todos há o seu lugar, mesmo o da sarjeta, sendo isso reconfortante. Optimismos arrogantes, são por natureza discriminatórios.
No início do artigo, escreve-se "Fast Food para a Alma", não poderia estar mais de acordo. Estou de acordo, mas não apenas por pensar tratar-se de uma grande aldrabice, mas sim por a aldrabice ser tão simples que se situa entre as mais básicas. A minha pergunta é a seguinte: Como é que pode ser segredo algo que se pode definir num único parágrafo?
Eu compreendo que a bomba atómica seja um segredo, que um medicamento seja um segredo, que um programa informático seja um segredo e por aí a diante. Compreendo, nem sempre defendo. No entanto vejamos o seguinte: Existe um universo, que pode ser apenas um nome, universo esse que responde aos seus pensamentos, ou impulsos psíquicos (é a mesma coisa), e dessa forma acontecer-lhe-á, por atracção, aquilo que pensar.
Acham que isto poderia alguma vez ser um segredo? Alguns dirão, não é bem a sim, é preciso ter fé no pensamento, acreditar, e etc, e etc, e etc. Embora estes et ceteras sejam numa fase inicial poucos, com a crítica tendem a aumentar, podendo dessa forma, tombar mais um promissor cálice sagrado. É só um aviso! (Dirá o popular: Ora porra, se é para seguir tantas regras mais vale a IURD)
Mas algo em mim me atrai no segredo, sim, ele é como um big mac, ele é simples. A sua simplicidade é tão grande que chega a ser educativa. Um dia, eu acredito, será ensinado nas escolas, como criar uma filosofia de pensamento comum. O segredo para uma boa nota, será o da simplicidade aliada a uma grande ou mesmo enorme, ou ainda, gigantesca recompensa. Se acreditar irá acontecer. Mais simples e prometedor não há.
Nessa altura, haverá a educação suficiente, para se perceber que faz sentido acreditar, que as ruas ficarão mais limpas se houver mais almeidas. No entanto, não fará sentido, haver uma igualmente simples explicação para a riqueza. Nesses dias de verdadeira sagacidade, todos se perguntarão; que riqueza?
Não defendo um cepticismo descrente. Eu também acredito que existem caminhos, mas a minha crença para além de carecer de provas, advoga a coerência e não o absurdo.
Há termos que sempre guardei. Um deles é o modus operandi! Impressiona a forma como este tipo de ideologias é comunicada. É a forma acima do conteúdo. Os livros sempre de capas brilhantes e com relevo, a mensagem sistematizada, os testemunhos felizes (eu fui cego e agora vejo), as pessoas de prestígio duvidoso (para dar mais força à coisa), e um final, não seja estúpido, junte-se a nós (à Media Markt).
Falemos de uma outra crença. Uma outra forma de acreditar na causa das coisas. Na linha de pensamento de Sigmund Freud, pensemos que os problemas das pessoas, são a consequência de traumas e repressões antigas. E agora, simplifiquemos. Os problemas das pessoas, são apenas a consequência de traumas e repressões antigas. E pronto, temos a Dianética.
Depois de assumir a crença anterior, um novo mundo se abre à nossa frente. Neste mundo existe o ser utópico, a que deram o nome de clear, o homem ou mulher limpo de qualquer trauma. A parte interessante, é que ficará convencido de não haver alternativas. Como já dizia Kissinger, a ausência de alternativas, limpa a mente de foram maravilhosa.
Qualquer pessoa perceberá com facilidade, que uma mente não pode ser livre de traumas num corpo traumatizado, e que mente e corpo não se podem desassociar.
A ilusão, e a ambiguidade são a ferramenta de quem quer impor uma verdade. No filme são citadas personalidades muito diferentes, começando aqui a ambiguidade.
As citações são muitas vezes usadas para se reforçar uma ideia, como uma forma de angariação de personalidades importantes. Dessa forma, será mais difícil por em causa ideias subscritas por nomes como sejam o de Einstein, Luther King Junior ou outros que associamos a grande sagacidade e seriedade. Não vou abordar todas as sentenças ao longo do filme, pois além de serem bastantes, algumas implicam uma religiosidade prévia, pois a consideração das citações de Buda implica que se seja budista.
Os boatos são uma realidade da vida, e são muitas as personagens do mundo que já se viram vítimas. Quem não conhece o fenómeno do diz que disse? Não estou a querer dizer que o que é transcrito está erradamente escrito, mas o significado que se procura transcrever está adulterado. Se me disserem, que o Sr. X, disse que é nas nuvens que se prevê o futuro, e se for dito num contexto em que se quer demonstrar, que as nuvens prevêem todo o nosso futuro, muito provavelmente, pensarei no Sr. X como um defensor da mesma teoria. Agora pensemos, e se no final descobrirmos que o Sr. X é um meteorologista? Concluiremos que o futuro a que o Sr. X se refere é o do tempo meteorológico e não o das pessoas. Ou seja, não se pode considerar uma frase sem se conhecer o seu autor, até porque estas frases por serem tão curtas e tão generalistas encerram em si uma certa ambiguidade. Se não, vejamos alguns exemplos:


Winston Churchill
You create your own universe as you go along (Você cria o seu universo à medida que vive)
Winston Chirchill foi Primeiro Ministro inglês durante a Segunda Guerra Mundial, e viveu por isso num tempo em que nunca tantos deveram tanto a tão poucos. Desta forma, não se deverá considerar a palavra you de uma forma puramente individual. Mas mesmo que consideremos you com sendo individual, a frase continua a não corroborar a teoria da atracção, porque as palavras criar e controlar têm significados diferentes. Um bom exemplo é a criação de um filho. Todos nós conhecemos casos, de desenvolvimentos de crianças, que são bastante perturbadores para os pais. Ou seja, eu crio um filho, não o controlo; pelo menos a 100%.


Luther King Junior
Take the first step in faith. You don't have to see the whole staircase, just take the first step (Suba o primeiro degrau com fé. Não precisa de visualizar a escada inteira, suba apenas o primeiro degrau)
Esta frase, recorda-nos a seguinte:


Lao-tzu (filósofo chinês que viveu entre 604 e 531 antes de Cristo)
A Journey of a Thousand Miles Begins with the First Step (Uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo)
Luther defendia o protesto não violento, para atacar a segregação racial, vigente nos Estados Unidos. Nessa altura, havia uma certa divisão, entre vários movimentos no que respeita à forma de protesto. Como não havia consenso, nem grandes certezas no que dizia respeito às consequências de tais protestos, Luther apelou à fé, e a um voto de confiança. Tal pode ser evidenciado com a marcha sobre Washington, que se tornou num grande sucesso apesar de algumas descrenças iniciais. Assim, a frase de Luther não difere na essência da de Lao-tzu.
O que significa é o seguinte. Não é necessário saber todo o processo, para este poder ser levado a cabo. Por exemplo, imagine que deseja ir a um determinado local de carro, não tem de ter na sua cabeça todo o caminho, basta-lhe seguir os sinais à medida que estes surjam, até chegar ao local pretendido. Trata-se de um processo iterativo, o qual é também usado no cálculo numérico.
Existe um livro muito bom relacionado com a interactividade; intitula-se Bounded Rationality (Racionalidade Limitada). Este livro editado pelo MIT, abordas as decisões tomadas num ambiente de conhecimento, recursos e tempo limitados. O livro dá um interessante exemplo, relativamente à forma de se programar um robot para apanhar uma bola. O exemplo é o seguinte:
No cricket, baseball ou football, os jogadores precisam de apanhar bolas. A experiência resume-se à criação de um robot que consiga apanhar a bola (tal robot ainda não existe). Em nome da simplicidade, consideraremos apenas o caso em que a bola vem de frente ou de trás do robot, mas não do seu lado direito ou esquerdo. Uma equipa de engenheiros, que chamaremos de equipa de optimização, procede programando uma família de parábolas na mente do robot (teoricamente as bolas descrevem parábolas). Para seleccionar a parábola adequada, o robot precisa de estar equipado com instrumentos que possam medir a distancia do local em que a bola foi atirada, tal como a sua velocidade e ângulo iniciais. No entanto, no mundo real, as bolas não formam parábolas perfeitas, devido à resistência do ar e ao vento. Assim, o robot precisa de mais instrumentos que possam medir a velocidade e direcção do vento em cada ponto de passagem da bola, e calcular o caminho resultante. No entanto, num jogo real, existem muitos outros factores, tais como a rotação da bola e o conhecimento de como estes factores interagem. Assim, a equipa de optimização terá de desenvolver todos os instrumentos necessários, ao correcto conhecimento ambiental do robot, e um potente software que tenha capacidade para processar todo o conhecimento que lhe foi fornecido. Tudo terá de ser processado num ou dois segundos, o tempo usual em que a bola estará no ar. Depois o robot mover-se-á para o local da bola apanhando-a de seguida.
Uma segunda equipa de engenheiros, a que chamaremos equipa de racionalidade limitada, seguem uma diferente abordagem. Começam por analisar o que os verdadeiros jogadores fazem realmente. Baseados nestas observações, a equipa heurística programa o robot para não se mover durante o primeiro meio segundo, estimando de uma forma grosseira durante esse período o local de queda da bola, à sua frente ou atrás. Posteriormente mover-se-á na direcção do local mantendo os olhos na bola. A heurística que o robot usa leva-o a ajustar a sua velocidade, por forma a que o ângulo entre a bola e os seus olhos se mantenha o mesmo. Usando este simples ângulo heurístico, o robot apanhará a bola enquanto se move. Perceba que nesta racionalidade limitada, o robot presta atenção apenas a uma variável, o ângulo da bola, não tenta adquirir informação relativa ao vento, enviesamento, ou quaisquer outras variáveis, nem realiza qualquer cálculo complexo. Perceba também, que a variável heurística não permite determinar o ponto onde a bola irá cair, mover para lá e apanhar a bola. Ele apanha a bola enquanto se move.
Esta experiência imaginária pode ilustrar outros pontos importantes. Primeiro, contrariamente ao senso comum, limitações de conhecimento e de capacidade computacional não são necessariamente desvantagens. As ferramentas heurísticas dos humanos, animais, e instituições podem ser simples, mas no entanto efectivas num determinado ambiente. O robot optimizado que necessita de uma representação completa do ambiente e aposta numa computação massiva, pode nunca terminar a sua análise antes da bola atingir o solo. A simplicidade, em contraste, permite decisões rápidas, económicas e precisas. Segundo, um modelo heurístico simples pode explorar uma regularidade ambiental. No caso presente, a regularidade é a de que o ângulo constante provocará a colisão da bola com o jogador. Terceiro, a racionalidade heurística é, até um certo ponto, uma estratégia localmente específica em vez de universal. Estas estratégias heurísticas são limitadas no seu âmbito, isto é, funcionam numa gama de situações, não sendo ferramentas de cálculo aplicáveis em todas as situações duma forma optimizada. Ao que se chama de "caixa de ferramentas adaptativa", contem um conjunto destas ferramentas limitadas, não um único martelo para todas as situações.
Neste momento, já se lhe deve ter tornado óbvio, como a observação de Luther King na realidade contraria a teoria da Lei da Atracção, visto fundamentar-se não numa verdade absoluta para todas as situações, mas sim, numa futura adaptação constante às situações.


Albert Einstein
Imagination is everything. It is the preview of life's coming attractions (A imaginação é tudo. É a previsão das atracções da vida futura)
To know is nothing at all; to imagine is everything (Saber é absolutamente nada; imaginar é tudo)
Imagination is more important than knowledge. For knowledge is limited to all we now know and understand, while imagination embraces the entire world, and all there ever will be to know and understand (A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento está limitado por tudo o que sabemos e compreendemos, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro, e tudo o que se pode saber e compreender)
A primeira sentença, usada no filme, mais as outras duas, ajudar-me-ão a sustentar a minha seguinte explicação. Para começar uma pergunta. O que há de comum nas três sentenças anteriores? A resposta será a palavra imaginação. Outra pergunta. Porque razão Einstein defende tanto a imaginação?
Surpreendentemente para alguns, será o facto de Einstein nunca ter aceite muito bem a Mecânica Quântica. A Teoria da Relatividade é a criação de Einstein, enquanto a Mecânica Quântica de Niels Bohr e Werner Heisenberg, esta última normalmente designada como a Interpretação de Copenhaga. Einstein tal como os seus colegas, alimentaram um debate sobre se era ou não aceitável, uma teoria que não se poderia imaginar. Bohr defendia que a tentativa de se imaginar o átomo era uma inutilidade, enquanto Einstein achava as descrições puramente matemáticas da equipa de Bohr uma heresia científica. Alguns paradoxos foram elaborados por Einstein e seus colegas, como sejam o Paradoxo EPR (Einstein-Podolsky-Rosen) ou o Paradoxo do Gato de Schrödinger, que tal como Einstein revelava um grande cepticismo relativamente à Mecânica Quântica. Por exemplo, a equação de Schrödinger, explica o movimento do electrão de uma forma que pode ser imaginada, ou seja, visualizada, algo que era muito importante, para os que tal como Einstein advogavam a necessidade da visualização, para a compreensão dos fenómenos físicos.
Ou seja, imaginação segundo Einstein quer dizer visualização, e não como se tenta transparecer intenção. A primeira frase é utilizada também, por conter a palavra atracção, mas o que se diz, é que a imaginação, ou seja, a visualização é a ferramenta que permite a visualização do que no futuro será uma atracção.
Agora verá também como é pouco sério citar Einstein, pois ele foi um dos primeiros a criticar as ambiguidades da Mecânica Quântica.
Agora, mais uma pergunta. Mas estará a querer dizer que a Mecânica Quântica é ambígua?
Sim, a Mecânica Quântica é bastante ambígua e contra intuitiva, não querendo dizer que seja incoerente ou errada. Esta teoria é simplesmente diferente das teorias clássicas, por exemplo, a palavra localização tem um significado numa e um outro noutra. Assim, o que os paradoxos revelam, é a leitura ou interpretação da Mecânica Quântica, segundo uma teoria ou definição clássica que se torna paradoxal, ou seja absurda.
Aliás, o próprio Fred Alan Wolf, um dos "gurus" da obra O Segredo, lembra na revista, que o poder da investigação é limitado no que toca a fenómenos da consciência, desmistificando a aura científica da obra. Ele diz:
As cargas semelhantes repelem-se e as opostas atraem-se; prefiro falar de ressonância e não de lei da atracção, que é uma metáfora para o poder da intenção.
A física quântica, efectivamente, mostra que o acto de observar condiciona o comportamento das partículas; porém,
não é cientificamente óbvio que algo aconteça apenas por se acreditar.
Existe um documentário de três episódios da BBC4 intitulado The Atom, este aborda a Mecânica Quântica, as suas implicações e algumas das especulações que a rodeiam.


The Atom - BBC4

Da mesma forma que a Dianética se dissocia da parte física, a Lei da Atracção da da sociedade. O Segredo é a crença de que alguém pode ser rico, ou ter sucesso numa sociedade inexistente, e que pode haver salvação para o puro individualista. Ele é na realidade, um verdadeiro caso perdido.


Foto de Oliviero Toscani

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