O significado da Vida sempre foi uma questão muito importante para um certo tipo de corrente filosófica, chamada de Existencialismo. Esta corrente filosófica tem a triste particularidade de ainda hoje ser tida em grande conta. Eu não sou opositor a um certo questionamento, o problema com o existencialismo não está aí, está isso sim no facto de estar fundamentalmente errada. O que quero eu dizer com fundamentalmente?
Muitas da ideias que se tem sobre algo assentam na sua capacidade
reducionista, aliás, esta é a base fundamental de qualquer filosofia ou ideia, e é aí que reside a sua verdadeira utilidade. Por exemplo, na física houve uma forma de
reducionismo verdadeiramente revolucionária, o átomo de
Boltzman e a sua
teoria atómica. Esta teoria continha em si um conceito muito importante para a altura, o de que o mundo físico é governado de baixo para cima e não o contrário, de que não há um ser ou entidade superior que controla o que se passa, mas quanto muito, uma série de lógicas que se evidenciam no átomo e se propagam até um nível macroscópico. No entanto, ao contrário duma qualquer teoria de pé descalço, a unidade átomo não se transformou num dogma inalterável! posteriormente surgiram os electrões, os protões e neutrões, e poderia dizer, acabando no
modelo de Bhor, poderia, se fosse uma filosofia de pé descalço.
Continuando, podemos ver na biologia, que a unidade é o gene, mas ao contrário do que se pensa, e ao contrário de outras unidades, como sejam o cromossoma, o gene não é algo definido e estabelecido de forma rígida, mas subjectiva, como algo que define uma característica ou um traço humano, inviabilizando de certa forma o gene como unidade, podendo mais correctamente dizer-se sequência genética. Desta forma, e ao contrário duma filosofia de pé descalço, não há uma espécie de fundamentalismo unitário.
Mas vamos às perguntas...
- Porque terá a vida de ter um significado?
- Porquê um significado e não outra coisa qualquer?
- Porque haveria de ser a vida a base de qualquer significado?
O existencialismo tem de ser tratado como realmente é, uma charada, e a que agora me ocorre é aquela do ovo e da galinha. O que nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Muito ao jeito do "porque existimos?".
Não seria muito complicado para nós desenvolvermos uma filosofia à volta do ovo e da galinha, poderia-mos até chamar-lhe o ciclo divino ou algo mais pomposo para dar um certo
romantismo. Dessa forma, o ciclo divino passaria a ser a nossa unidade.
Claramente não se trata dum ciclo divino! Do que se trata afinal?
Antes de mais, não há a necessidade de se provar o que algo é para se concluir do que não é, pode-se chegar lá
por absurdo. Apesar disso, poderia-se simplesmente dizer que sendo a galinha uma espécie descendente de outras que
igualmente recorriam ao ovo para se reproduzir, conclui-se que o ovo "nasceu primeiro". Claro que dependendo da resposta que se queira podem-se ter respostas mais ou menos elaboradas e complexas.
O verdadeiro
absurdismo do existencialismo vai para além do significado da vida, este na verdade assenta na sua unidade, a existência. É preciso antes de mais notar o seguinte:
- Nem toda a vida recorre à consciência da sua existência (vírus, fungos, etc...);
- A consciência da existência não foge às regras que regem outras características da vida;
- A existência propriamente dita, só por si não se restringe à vida.
Compreende-se que para qualquer filósofo possa ser complicado fazer considerações sobre o seu sentimento de existência, apesar de o fazer relativamente às suas capacidades cognitivas como seja o caso de
Kant. De facto, tal sentimento tem-se consolidado numa unidade sagrada, apesar de haver sempre quem o conteste como seja o caso de
António Damásio.
No entanto, tal como o nosso ciclo divino descrito anteriormente, o sentimento de existência pode ser
desmistificado de forma engenhosa. Vamos supor duas hipóteses:
- A existência é do domínio espiritual, é neste que ela reside indo para além do corpo;
- Toda a característica transportada de forma não física difere das características que o são;
Se for
criacionista, para si haverá apenas um transporte, o espiritual, e dessa forma, a não diferença das características transportadas não se tornam num problema. No entanto, não faltam provas que não tenham já tornado o criacionismo numa mera relíquia histórica, não sendo além disso o âmbito deste
post.
Vamos partir do princípio de que não é um fundamentalista religioso, e que de alguma forma concebe termos como hereditariedade e população. Por exemplo:
- Porque razão tem 5 dedos em cada mão(1)?
- Porque razão teriam os seus antepassados estas características?
- Porque razão na população em que se insere é dominante todos terem também 5 dedos em cada mão?
Porque de alguma forma, a informação que sustenta esses mesmos 5 dedos, foi herdada por si sendo igualmente tal mecanismo partilhado pelos que estão à sua volta (população geral).
Se aceitar o que foi anteriormente dito considere agora os sentimentos, dor, frio, calor, tristeza, alegria, melancolia, etc... Todos estes sentimento, independentemente da forma como se possam categorizar são resultado dum mecanismo igual de transporte ao dos 5 dedos.
Agora pense no seguinte:
Se considerar a existência como um sentimento semelhante aos
anteriormente descritos, ele
próprio partilha exactamente as mesmas características, hereditariedade e partilha populacional, não só na sua consciência como na forma semelhante como se exprime. Assim sendo o seu transporte terá de ser
igualmente físico, tornando-se absurda a ideia espiritual.
Agora repare, um sentimento não é uma decisão, embora tal lhe
pareça semelhante, a liberdade da sua existência torna-se assim ilusória, visto que esta existe apenas para que siga as
baias traçadas pela lógica da própria natureza.
A liberdade reside assim na dimenção do poder que se exerce sobre essa mesma natureza, quer moralmente quer tecnologicamente, sendo a última preferível à primeira. A liberdade nada mais é do que a corrupção da própria natureza.
Cena do filme Meaning of Life.(1) - Sem considerar qualquer excepção.